OBESIDADE INFANTIL

Inicialmente antes de falar um pouco sobre OBESIDADE INFANTIL, se faz necessário trazer algumas informações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998) que relata crescimento da obesidade infantil em aproximadamente 40% nos países Europeus nos últimos 10 anos. No Brasil os últimos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são de 2008/2009 (Brasil, 2008). Na região sudeste o excesso de peso infantil em crianças de 5-9 anos foi de 38.8% e nas idades de 10-19 foi de 22.8%. A Associação Brasileira para O Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso, 2015) mantém em seu site um mapa atualizado a partir de informações oficiais, onde é possível ver por região a prevalência da obesidade.

 

Nesse rumo, podemos considerar a obesidade como uma doença crônica multifatorial e assim o tratamento deve ter também uma perspectiva multidisciplinar. A obesidade evoca muitos elementos que se relacionam de maneira dinâmica e simultânea, portanto qualquer tentativa fragmentada de lidar com o tema se mostrará menos eficaz. Para elucidar alguns destas informações pode-se citar: a influência midiática que estimula uma alimentação inadequada ao mesmo tempo em que se cobra um padrão ideal de magreza, a economia/política que estimula o consumismo, os interesses da indústria da alimentação não saudável, a complexidade das relações familiares envolvidas, a discriminação social sofrida, a dificuldades subjetivas de cada um, entre outros.

 

É crucial destacar que além dos problemas de saúde graves, comumente existem problemas psicológicos na obesidade infantil. A criança obesa geralmente apresenta problemas psicológicos e sociais, com consequências diretas na sua autoestima e quebra no seu rendimento escolar.

 

O ganho de peso em crianças pode estar associado a situações de perda e características de personalidade e que pode haver a necessidade de psicoterapia no tratamento do problema, que por vezes tem origem na dinâmica familiar.

 

Comer demais, para elas (crianças e adolescentes), uma maneira de amenizar o sofrimento e trazer tranquilidade. Haja vista que estas tentam preencher o vazio emocional e lidar com os problemas comendo, pois essa é uma forma de manter algo bom dentro de si. Se você tira isso, ela sente que perdeu algo bom, logo, a importância da psicoterapia.

 

Oportuno se torna mencionar que no final da infância e início da adolescência, com o aproximar das transformações físicas, a criança obesa tende a sofrer as consequências psicológicas, emocionais e sociais pelo excesso de peso. O excesso de peso afeta a imagem corporal da criança, prejudicando a forma de pensar em relação a si mesma, mudando os seus comportamentos, em particular, contribui para a baixa autoestima. Portanto, os familiares devem estar atentos sobres essas mudanças de comportamento e fisiologia.

 

Vale destacar sobre um argumento bastante usado, pelos familiares, para fazer as crianças comerem é citá-lo como uma fonte de energia para conseguir fazer suas atividades. Já em relação ao alimento como prazer as expressões utilizadas foram “tudo de bom”, “relaxa”, “gostoso”, “prazeroso” entre outras. Aludidos argumentos apenas ensejam associações cognitivas de maneira erradas, estabelecem crenças que iram limitar a compreensão sobre a função da alimentação.

 

No ambiente escolar, temos o bullying, ato de intimidação ou agressão, que pode ser psicológica ou física, praticada geralmente por um grupo de pessoas. As crianças passaram por situações de bullying, irão ter grandes chances de se levarem ao isolamento e à depreciação de si, o que agrava ainda mais a questão psicológica que leva à obesidade.

 

A literatura de maneira bem pontual, traz argumentos de que crianças associam pessoas magras e gordas a qualidades negativas, enquanto indivíduos de tamanho mediano foram associados a qualidades positivas. Os extremos são considerados ruins. Desta forma, a criança interioriza muito cedo que ter excesso de peso é motivo de vergonha e embaraço.

 

Portanto, são diversos os problemas psicológicos na obesidade infantil. A criança obesa tende a sofrer de dificuldades psicológicas, emocionais e sociais, pese embora o simples facto de ser obeso não estar diretamente associado com elevados níveis de depressão, ansiedade, ou baixa autoestima.

 

Nesse sentido, a perspectiva da criança se encaixar (ou não) nas normas de aparência que gera um efeito negativo e propicia o desenvolvimento de depressão e baixa autoestima. De fato, a criança obesa pode formar uma auto avaliação negativa de si própria, como reação ao comportamento discriminatório de que é alvo (ou que é percebido como tal).

 

É importante referir que a tentativa da criança obesa em se encaixar nas normas de aparência da sociedade, onde ser magro equivale a ser atraente, origina stress ou mal-estar devido às constantes tentativas para perder peso através de dieta. A culpa sentida ao falhar na persecução de uma dieta, a preocupação que acompanha a dieta e a interferência que ela causa nas atividades sociais, provoca stress e, nos casos mais graves, na adolescência, pode levar a situações de anorexia ou bulimia.

 

Aqui é importante o papel da família, que deverá contribuir positivamente para minorar a pressão sobre a criança. Em muitos casos, verifica-se que a criança obesa é submetida por longos períodos de tempo a gozação ou o chamar nomes por parte dos seus pares e/ou membros da família devido ao peso excessivo, o que tem um grande impacto a nível psicológico, para além de interferir nas relações sociais.

 

Os adolescentes submetidos a esse tratamento demonstram maus resultados na satisfação corporal, autoestima, sintomatologia depressiva e elevada percentagem de relatos de ideação suicida e tentativas de suicídio.

 

Sumariando, ser obeso é, em muitos casos, estigmatizante e pode originar problemas psicológicos graves. Logo, importante a ajuda profissional de um psicólogo, que poderá ajudar a criança obesa a superar as suas dificuldades psicológicas, emocionais e sociais.