Amor e Ódio

Amor e ódio são sentimentos necessários à convivência, à formação dos vínculos. É pelo amor que buscamos a união; é pelo ódio que consideramos o afastamento; unir e afastar são efeitos das emoções (emotionare = mover).

 

A forma como vivenciamos cada um desses sentimentos é determinante da nossa capacidade de nos relacionarmos. Na intensidade do amor, chegamos a temer o que sentimos por medo (desejo) de nos perdermos no outro, ou de que o outro se perca em nós.

 

Na intensidade do ódio, chegamos a imaginar a destruição do outro ou a nossa própria. Tanto o amor quanto o ódio exigem de cada um de nós a capacidade de lidarmos com nossa ambivalência: só conseguimos amar e odiar quando não vivemos esses sentimentos como derradeiros, definitivos, separados radicalmente.

 

A possibilidade de reconhecermos nossas próprias atitudes e intenções agressivas só é possível quando mediamos a intensidade do nosso ódio e do nosso amor. Não é porque odiamos que a destruição real se concretizará; assim como não é porque amamos que poderemos nos fundir ao outro. Considerar que o objeto amado ou odiado sobreviverá apesar das nossas intensidades é fundamental para que tanto o amar quanto o odiar se façam experiências enriquecedoras da vida.

 

O reconhecimento da nossa agressividade só é possível quando e se o objeto odiado sobrevive, e nos permite uma atitude de reparação das nossas faltas. Se o objeto não sobrevive ao ódio, a reparação não se torna possível; evitamos, recalcamos, recusamos o ódio; torna-se, então, impossível odiar e amar verdadeiramente.

 

Recusamos, junto com o ódio, também o amor. Para sobreviver, o amor precisa do ódio e da reparação. É apenas quando amor e ódio se articulam em suas inseparáveis formas de manifestação que se torna possível enxergar “uma luz no fim do túnel”. A saída dos conflitos emocionais exige de nós o reconhecimento da totalidade da natureza humana. A intensidade com que vivemos amor e ódio não precisa apagar nossa luz. (Evelin Pestana)