O que a Psicanálise pode dizer sobre a Política?

A política já foi tratada com algum pudor entre os psicanalistas, como se estivesse fora da sua alçada, e o psicanalista devesse se abster de pensar e participar ativamente ou nada pudesse dizer a respeito. Ocupar o lugar do objeto na relação transferencial é um ato do analista que não implica, de modo algum, tornar-se inanimado ou indiferente, abstendo-se de elaborar as questões ideológicas e políticas que a ele se apresentam. Em sua vocação subversiva, a psicanálise continua caminhando junto com a humanidade, e não há como desprezar as reflexões sobre as possibilidades e impossibilidades que ela desnuda nos convocando a ir além, a avançar influenciando e sendo influenciados.

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Ela nos ensina que a fantasia fundamental norteia a posição do sujeito no laço social que estabelece, e isso afeta diretamente tanto o analisante quanto o analista que, a partir de sua análise pessoal, deve estar prevenido em relação ao lugar que ocupa e aos efeitos que isso integra em seu ato como analista, nas instituições psicanalíticas e na polis também. Aí está a política, sempre. Ser falante é ser político. Não podemos negar o fato de que as instituições sofrem do mal-estar das diferenças ideológicas que as estruturam e nelas reinam, mesmo que já se tenha experimentado estabelecer dispositivos que tentaram dar conta desses efeitos. Nem sempre deu certo. Ainda que subjacentes, os discursos políticos são operantes nos vários grupos e tendências das instituições psicanalíticas, pois não há como evitar que o laço social seja político.

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Freud, a meu ver, deixou em sua obra – implícita e explicitamente – uma inequívoca opinião sobre as relações políticas.

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Fonte: GOLDENBERG, R. Sobre a indiferença dos psicanalistas em matéria de política.