Desastres, tragédias, catástrofes, sempre foram usados como sinônimos, referindo-se a eventos destrutivos, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Acontecimentos recentes no Brasil vêm modificando a crença popular de que “Deus é brasileiro” e que o país está protegido de grandes calamidades. Fenômenos naturais, como a seca, as chuvas, os deslizamentos e tornados são apenas alguns exemplos de eventos naturais que podem eventualmente transformar-se em um desastre, a depender das condições do local onde ocorrem e da vulnerabilidade da comunidade atingida. Também as situações de violência urbana, acidentes automobilísticos e doenças crônicas são exemplos de eventos vitimadores que provocam danos psíquicos e sofrimento à pessoa atingida, e isto exige que os psicólogos estejam cada vez mais preparados a atuar nessas circunstâncias, pela complexidade das condições implicadas nessas situações.
A psicologia das emergências e dos desastres é definida como aquela área da psicologia geral que estuda as diferentes mudanças e os fenômenos pessoais presentes em uma catástrofe, seja esta natural ou provocada pelo homem, que resulta em grande número de mortos ou feridos que tendem a sofrer sequelas por toda a vida.
As consequências psicológicas de um desastre são inevitáveis, pois este se configura sempre como uma fonte acelerada de estresse e representa sempre uma ameaça à vida e fonte de destruição (CFP, 2005). As contribuições da psicologia são muito importantes na prevenção e redução de desastres, bem como no tratamento das consequências psicológicas oriundas de um evento adverso vivido por um indivíduo, por uma comunidade ou cidades inteiras.
A psicologia das emergências e dos desastres é uma área relativamente nova e ainda pouco difundida no Brasil. No entanto, em grande parte da América Latina (Chile, México, Venezuela, Argentina, Peru e outros países) existem sociedades ou associações nacionais em que esta temática e área de atuação são bastante conhecidas, e estudos permanentes são realizados a fim de se aperfeiçoarem as técnicas já existentes e desenvolverem novas estratégias de apoio psicológico às populações atingidas por uma emergência ou calamidade.
Assim, observa-se que a presença do psicólogo pode ser bastante valorizada nos trabalhos junto às comunidades, com os núcleos comunitários de Defesa Civil, incentivando a organização de lideranças comunitárias e demais membros, no sentido de que cada um saiba reconhecer a importância de suas ações individuais e coletivas para a melhoria das condições do lugar em que vivem, de forma que cada um possa assumir a própria responsabilidade sobre si e sobre o grupo.
A psicologia das emergências e dos desastres deve sempre buscar uma compreensão das relações entre as pessoas e o espaço, visando proporcionar qualidade de vida e satisfação. Os eventos em si (desastres naturais) não necessariamente desencadeiam um desastre, este se dá como uma consequência do não gerenciamento das ameaças. Assim, a vulnerabilidade (ameaça) resulta em um desastre, quando essa ameaça não é administrada com ações preventivas, gerando o risco.
É fato que, sendo o psicólogo um investigador do comportamento e do sofrimento humano, deve estar preparado a agir nessas situações tendo em mente sempre que algumas reações “bizarras” de pessoas que acabam de sofrer um evento adverso podem ser respostas absolutamente normais diante de eventos que não são normais, e cabe a esse profissional fazer essa distinção.
Por fim, verifica-se que as possíveis contribuições da psicologia na área de emergência e desastres são amplas e relevantes tanto social quanto acadêmica, visto que muito há ainda a ser investigado em relação à prática dos psicólogos no cenário de emergências e desastres.